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“Quando os pintores impressionistas, deixando o ateliê pelo ar livre, procuraram apreender o objeto imerso na luminosidade natural, a pintura figurativa começou a morrer”
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“Pouco depois, Maurice Denis diria que ‘um quadro – antes de ser um cavalo de batalha, uma mulher nua ou alguma anedota – é essencialmente uma superfície plana coberta de cores disposta de certa maneira’ "
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“Com o cubismo, o objeto é brutalmente arrancado de sua condição natural, transformando em cubos, o que virtualmente lhe imprimia uma natureza ideal; esvaziava-o daquela obscuridade essencial, daquela opacidade invencível que caracteriza a coisa”
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“Mas o cubo é tridimensional, ainda possui um núcleo, um dentro que era preciso consumir – e isso foi feito pela fase dita sintética do movimento. Já então o que sobra do objeto é pouca coisa [...] O objeto que se pulveriza no quadro cubista é o objeto pintado, o objeto representado”
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“Os contra-relevos de Tátlin e Rodchenko, como as arquiteturas suprematistas de Maliêvitch, indicam uma evolução coerente do espaço representado para o espaço real, das formas representadas para as formas criadas.”
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“Nessa altura, a obra de arte e os objetos parecem confundir-se. Sinal desse mútuo extravasamento entre obra de arte e o objeto é (o trabalho acima) [...] Readymade consiste em revelar o objeto deslocando-o de sua função ordinária e assim estabelecendo entre ele e os demais objetos novas ralações
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“A mesma luta contra o objeto verifica-se na escultura moderna a partir do cubismo. [...] com os construtivistas russos (Tátlin, Pevsner, Gabo) a massa é eliminada e a escultura despoja-se da sua condição de coisa."
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“Mondrian limpa a tela, retira dela todos os vestígios do objeto, não apenas a sua figura, mas também a cor, a matéria e o espaço que constituíam o universo da representação: sobra-lhe a tela em branco. Sobre ela o pintor não representará mais o objeto: ela é o espaço onde o mundo se harmonizará segundo dois movimentos básicos da horizontal e da vertica
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“Se ele tentou destruir o plano com o uso das grandes linhas pretas que cortam a tela de uma borda à outra – indicando que ela confina com o exterior -, ainda essas linhas se opõem a um fundo, e a contradição espaço-objeto reaparece. Inicia, então , a destruição dessas linhas [...]”.
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“Tornada objeto, a escultura livra-se da característica mais comum àquele: a massa. Mas isso não basta. A base – que na pintura equivale na escultura à moldura do quadro fora eliminada. Vantongerloo e Moholy-Nagy tentaram realizar esculturas que se mantivessem no espaço sem apoio. Pretendiam eliminar da escultura o peso, outra característica fundamental do objeto”
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“Que são os quadros de Burri com estopa, madeira ou ferro, senão o retornar – sem a mesma violência e antes transformando-os em belas-artes – dos processos usados pelos dadaístas?”
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“E o que se verifica é que, enquanto a pintura, libertada de sua intenção representativa, tende a abandonar a superfície para se realizar no espaço, aproximando-se da escultura, esta, liberta da figura, da base e da massa, já bem pouca afinidade mantém com o que tradicionalmente se denominou escultura [...] O mesmo se pode dizer de um quadro de Lygia Clark e uma escultura de Amilcar de Castro”
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Ferreira Gullar considera trabalhos como o de Fontana e Burri como extravagâncias. “Que são as telas de Fontana expostas na V Bienal, senão uma retardada tentativa de destruir o caráter fictício do espaço pictórico pela introdução nele de um corte real?”